Hatshepsut: A primeira faraó da história

"No Egito do seu tempo, mulher não tinha vez. Mas a princesa Hatshepsut deu uma rasteira nas tradições - e tornou-se a primeira faraó de saias de todos os tempos. Para chegar lá, ela encarou o mundo do machista que a rodeava. A "escalada rumo ao trono começou como mandava o figurino". Com a morte do pai, o faraó Tutmés I, Hatshepsut casou-se com seu meio-irmão, Tutmés II, assumindo o papel de rainha com apenas 17 anos de idade. Sim, o casamento entre irmãos era comum no Egito antigo para manter os negócios em família. Só que a união durou apenas quatro anos. Tutmés II morreu, deixando um filho que teve com uma concubina. Conforme os costumes locais, o menino era o herdeiro do trono. Cabia a Hatshepsut, então, exercer o comando inteiramente até que o enteado, Tutmés III, tivesse idade para assumir o cargo.
Foi aí que a rainha virou o jogo. Ignorou os padrões vigentes e abocanhou o poder. Por 22 anos, ela governou sozinha o importante Estado, um dos mais ricos da época.
"Para justificar seu direito ao trono, assim como qualuqer sucessor do sexo masculino, Hatshepsut invocou sua descendência de Tutmés I. No início, não enfrentou oposição, já que Tutmés III era muito jovem e não poderia reinar", afirma Peter Dorman, professor de Egiptologia do Instituto Oriental da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos.
No começo do reinado, Hatshepsut portou-se como regente, sem exigir as regalias reservadas aos faraós, que, além de governantes, eram sacerdotes da religião local e considerados seres divinos. Aos poucos, foi atestado os limites que tal sociedade impunha às mulheres, principalmente a uma "atrevida" que almejava o posto de faraó.
"Os anos iniciais foram marcados por experiências de poder. Primeiro, Hatshepsut assumiu os títulos reais, mas ainda mostrando-se como mulher. Depois, tomou a coroa real e as insígnias. E, finalmente, mostrou-se como faraó, ao usar barba postiça. Mas em todas as inscrições ela continuou usando pronomes femininos", afirma Dorman.
O uso da barba falsa era um costume reservado somente aos faraós, um símbolo de poder equivalente à coroa de um rei. A nova mandatária do Egito, no entanto, não se limitou aos adereços - e aos luxos do alto posto. Ela também colocou a mão na massa. Optou pela inovação administrativa e pela expansão comercial, amealhando uma boa poupança para os cofres públicos. Hatshepsut enviou expedições marítmas para a costa africana, no Mar Vermelho, a fim de obter ouro, marfim, peles de animais e até árvores de mirra para plantá-las em seu jardim. Ela também botou cobradores no encalço dos reinos dominados pelo Egito: na Ásia, Núbia (atual Sudão) e Líbia. A investida resultou em polpudos impostos."

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"Com total poder sobre a vida e a morte de seus súditos, ela poderia ter mandado matar o rival Tutmés III, afastando para sempre a sombra que pairava sob seu governo. Mas Hatshepsut preferiu garantir a autoridade cercando-se de oficiais leias, e também casando sua filha, Neferura, com Tutmés III. A menina era fruto do casamento da faraó com seu meio-irmão, Tutmés II. A estratégia de manter o enteado afastado do trono, no entando, ficou enfraquecida com a morte da Neferura.
Depois de um tempo, Tutmés III passou a exigir o que era seu pela tradição: o título de faraó. Mas ele só conseguiu tal feito com a morte de Hatshepsut, em 1482.a.C. Uma dúvida ainda paira sobre a história de Hatshepsut: ela morreu de causas naturais ou foi assassinada? Está aí um enigma difícil de solucionar.
Até hoje historiadores tentam provar uma ou outra tese, sem resultados eficientes. Tudo o que existe sobre a morte da primeira faraó de história são meras especulações, provenientes das atitudes de Tutmés III depois que assumiu o trono."

Texto adaptado de: Coleção - As sete maravilhas.